quarta-feira, maio 25, 2005

Aventura numa noite encarnada

Tudo tem um lado negativo. A festa benfiquista teve, para mim, um lado negativo também. Ao fim da noite fui assaltado por benfiquistas...foi quase tão bonito como a invasão de campo! Mas esta saiu-me mais cara! Podia ter sido mais...a minha máquina fotográfica digital só custou 300 euros! Felizmente não deram com ela...sorte a minha!

Tudo aconteceu a caminho da viatura, por volta das 5h da manhã, depois de festa rija no estádio da Luz. Eu e o um amigo meu, chamemos-lhe Abraão, fomos assaltados! Uma forma emocionante de acabar uma noite de emoções fortes! Felizmente não gostaram dos nossos telemóveis velhos, não queriam um Rover 400 de 98 e estavam tão mocados que se esqueceram de me roubar a máquina. Eis a reconstituição:

t=0 min:
Vemos um africano destacar-se de um grupo, atravessar a estrada para o nosso lado, com um canivete suiço na mão, a balbuciar qq coisa.

t=0,5 min:
Paramos para dois dedos de conversa com o nosso anfitrião, onde ele indaga a Abraão sobre a sua disponibilidade para morrer naquela noite e se tinha dinheiro e/ou um telemóvel. Abraão faz-se de esquisito e diz que não lhe dava jeito nenhum falecer ali.

t=1 min:
Um colega do anfitrião dirige-se ao nosso lado da estrada apenas para nos salvar o couro, insistindo com o seu colega para que o acompanhe e não nos incomode mais. Ficou-nos a dever um pedido de desculpa formal pela insolência do parceiro.

t=4 min:
Depois de darmos algum espaço ao pelotão da frente, estávamos a virar para a rua de terra batida e sem saída onde estava estacionado o meu carro. A cerca de 5 metros da viatura, ouvimos rumores a aproximarem-se por detrás.

t=4,5 min:
O anfitrião insiste em perguntar, com o canivete na mão, se mantemos a nossa indisposição para morrer nessa noite. Dizemos que sim, que temos gente à espera em casa! Entretanto, enquanto nos dá mais uns segundos para pensar, vai pedindo dinheiro e telemóvel. Ajudado agora por dois amigos, começam então a ficar curiosos com os bolsos e com as carteiras... Só tinha a chave do carro no bolso, caiu ao chão e tudo, mas eles não estavam interessados no potente Rover 400 de 98, 1.4 cm3 e 100cv.

t=5 min:
Desconfiados de que poderia ter qq coisa debaixo da camisola encarnada do SLB (e tinha! minutos antes tinha pendurado a bolsa da máquina por baixo da camisola, para não atrair atenções! nem de propósito) disseram: "Tira a camisola". Mas entretanto lá se esqueceram, porque havia 20 euros na minha mão. Já não queriam o telemóvel. Era velho e ainda bem! Um dos gajos andou a vasculhar-me nos bolsos e a apalpar-me! Achei aquilo extremamente indelicado e assediador! Passaram com as mão por cima da máquina, mas não a sentiram, entorpecidos pela brutal moca com que se apresentavam!

t=6 min:
Contentes com os 25 euros (20 meus+5 do Abraão) que conseguiram juntar naqueles minutos de labuta árdua, foram indo, sem se despedirem, a fazerem contas da percentagem que teriam de pagar ao fisco. Agradeci-lhes o momento agradável e dirigi-me à viatura. Entrámos e tranquei as portas.

t=6,5 min:
A bom tempo as tranquei, porque o nosso anfitrião, aparentemente, se tinha esquecido de qualquer coisa. Ah, sim...não cheguei a despir a camisola para ele ver o que estava por baixo! Talvez com os nervos de ver o seu condutor prestes a ser esventrado, o Rover não queria colaborar, falhando um primeiro arranque. À janela tinha agora o nosso anfitrião da noite, a bater à janela. Fiquei à espera que dissesse: os seus documentos e os da viatura. Mas não! Queria mesmo que eu despisse a camisola. Devia excitá-lo tal acto. O Rover continuava a não colaborar: desta vez a chave não rodava sequer no canhão. O nosso companheiro de boa disposição estava agora exaltado e impaciente!

t=7 min:
Perante a minha falta de colaboração para lhe abrir a porta, sentiu-se na necessidade de olhar à sua volta, para procurar qualquer coisa para abrir o vidro, pelo menos. Talvez uma pedra que felizmente não estava ali à mão. O Rover lá colaborou, depois de lhe prometer que nunca mais deixo que lhe metam óleo que não seja Castrol GTX. Arrancou em grande estilo, sem controlo de tracção, deixando o nosso amigo africano branco com tanta poeira e frustrado por não ter conseguido fazer mais estragos. Não precisei de atropelar os seus amigos que o esperavam pacientemente ao fundo da rua, pois tiveram o bom senso de se manterem no passeio. Acenaram à nossa passagem, já nostálgicos daquele momento bem passado que agora findava.

Foram 5-7 minutos muito intensos. Curtos, mas que foram vividos na máxima força. Nem em Quinchassa se vê daquilo. Depois regressámos a casa, televisão a meio gás e pronto...