Cortar onde?!
Com toda esta celeuma à volta do défice, muitos entendidos na matéria aparecem na televisão e jornais a dizer de sua justiça. Ele é economistas, sindicalistas, contabilistas e malabaristas! Cada um diz o mesmo de maneira diferente, cada um com o seu ponto de vista.Mas há uma coisa que é ponto comum em todas as intervenções. Toda a gente fala nisso! Até membros do Governo! Quer se ache que o défice previsto seja exagerado ou não, todos concordam que a solução para todos os males deste país passa por um ponto essencial: cortar nas despesas do Estado!
E a solução é mesmo esta e toda a gente fala nela da mesma maneira. Uns dizem:
«Na minha opinião o Governo não tem outra hipótese senão aumentar os impostos e rever as taxas de IRC e IRS e, claro, reduzir nas despesas».
Outros sugerem:
«O Governo, por muito que lhe custe, tem de aumentar os impostos sobre os produtos petrolíferos, sobre o tabaco e reduzir ao máximo as despesas».
Outros ainda acrescentam:
«O Estado português deve ponderar a extinção da taxa mínima do IVA e, por outro lado, controlar as despesas públicas, reduzindo-as».
Conclusão óbvia: toda a gente fala na redução das despesas!
A questão é: quem é que sugere medidas concretas para que tal aconteça?! Quem é que especifica que reduções são essas? Onde é que o cirurgião pode lipoaspirar o pote de banhas que é o Estado?! Vão passar a comprar-se clips e agrafos nas lojas dos chineses a 25 cêntimos a centena? Devem despedir-se pessoas? Deve organizar-se um torneio nacional de sueca a dinheiro entre os funcionários das repartições de finanças, em que o dinheiro das apostas reverte para o Estado?! Os ministros vão passar a conduzir os seus próprios carros e esses carros vão passar a ser Toyotas Yaris, pretos, com full extras, em vez dos topos de gama da Volvo e da BMW?! Será que finalmente vão acabar com as máquinas de escrever para poupar no papel?! Contem-nos!! Dêem sugestões, bolas!
Eu também posso dizer palavras sábias como: «Para acabar com os atentados constantes no Iraque é necessário dar condições aos iraquianos para serem felizes» ou então «Para acabar com a fome no Mundo é necessário que a ONU desenvolva todos os esforços diplomáticos e, efectivamente, criar todas as condições de auto-subsistência controlada e livre de problemas intrínsecos das culturas dos países sub-desenvolvidos da África Subsariana». É indiferente! Ninguém sabe do que estou a falar... são só palavras numa frase... nada mais!
Enquanto não houver acção não há retoma! Palavras leva-as o vento!
Entretanto recordo aqui a frase que melhor resume as soluções para o défice neste país, proferida por Lili Caneças, já em 1867, quando tinha só 17 anos: «Estar vivo é o contrário de estar morto e o Estado tem de cortar é nas receitas, pá».