quarta-feira, junho 29, 2005

Música governamental

(Preparem-se, que estou num daqueles dias em que me apetece emigrar!)

Já houve um tempo em que a música neste país era outra! Havia dinheiro, vacas gordas, tudo corria bem! A União Europeia era amiga e mandava umas mesadas, o petróleo era baratinho e a China estava a dormir.
O que é que se fez nesses tempos? Esbanjou-se dinheiro em tudo e mais alguma coisa! Vá la...esbanjar se calhar é exagero...mas assim um gastar à bruta...pronto! Investiu-se alguma coisa? Investiu-se em formação a sério? Investiu-se em tecnologia? E não digo comprar computadores para as esquadras da GNR! Falo em investimentos que tragam lucro a médio prazo! Investiu-se em negócios a sério? Procuraram-se alternativas energéticas? Investiu-se nessas alternativas? Alguém mudou alguma coisa neste país? Alguém fez um plano de contingência para quando as vacas gordas morressem com um ataque cardíaco? Puseram, por acaso, as vacas a fazer desporto para prevenir esses ataques cardíacos?
A resposta é mais que óbvia...mas parece que só agora é que as pessoas conheceram a resposta. Parece que ninguém estava à espera que isto acontecesse...

Estado da nação:
- Fala-se em prevenção de incêndios, alugam-se dois aviões telecomandados com jactos de água. Resultado: já ardeu mais área de mato do que no ano passado todo!
- Fala-se em reduzir custos com a função pública e administração central, congelam-se salários e carreiras, alteram-se regalias. Resultado: greves de professores, de polícias, de médicos, de enfermeiros...só faltam os deputados fazerem greve também para voltarem a ter direito a uma mísera de reforma de centenas de contos de reis.
- Fala-se na retoma, que já lá vem. Depois já se diz que está atrasada, perdeu o avião. Entretanto o Zé aperta ainda mais o cinto. Claro que o Zé é o gajo que mora no R/C, do qual paga uma prestação de 80 contos de empréstimo, conduz um Fiat Uno, trabalha por conta doutro gajo qualquer e ganha 120 contos limpos. Está bem que tem três telemóveis e um aspirador de 400 contos que também paga a prestações... mas os dois filhos custam mais de 40 contos só em livros e material escolar no início do ano lectivo. Resultado: o patrão do Zé e mais uma data de filhos das putas continuam a não dar satisfações ao fisco. Não passam recibos de nada a ninguém e queixam-se que a vida lhes corre mal, enquanto vão a caminho da sua casa em Vilamoura, no seu Porsche Cayenne ou no seu Jaguar verde esmeralda. Está bem que os putos estão na faculdade e pagam 160 contos de propinas, mas estão lá para mais tarde seguirem a carreira do Papá à frente da empresa e têm um portátil, um carrito de 3000 contos, um telemóvel última geração e roupinha da Sacoor. Mas, no fundo, são famílias muito poupadas: não pagam mais que o salário mínimo à empregada, ao jardineiro e ao motorista. Mas que outra maneira tinha o motorista de conduzir um Mercedes?
- Os governos mudam, a oposição muda, os líderes dos partidos mudam...Mudam os maestros, mas a música é sempre a mesma! Os que saíram de lá e deixaram o país na merda, acusam os que lá estão de estarem a ser maus para os trabalhadores e para a classe média. Os que lá estão culpam os anteriores e dizem que não podem fazer nada, que a culpa é dos outros. Então, só podem aumentar os impostos! Paga o Zé! Resultado: cada conjunto de governantes que lá passa puxa o país um bocadinho mais para baixo. Depois viram-se para trás e dizem "Oh pai, não fui eu! Foram os meninos que estiveram antes de mim!!". Quando entra outro conjunto para o poleiro, apontam o dedo e dizem: "Vocês deviam ter vergonha...a puxarem o país para baixo...seus incompetentes...essas contas estão mal feitas...o país tem muito potencial...não deviam aumentar os impostos...as velhinhas e as crianças é que é!!"

Ou seja, neste país passa-se o tempo a fazer duas coisas: olhar para trás e dizer mal dos vizinhos! Já para não falar em coçar a micose e roçar o cú nas paredes! Estamos entregues a bichos que não têm o sentido de dever. Dever esse que não é mais do que se sentarem a uma mesa, gregos e troianos, e chegarem a concensos quanto às necessidades do país. Deixarem cair as máscaras de políticos e colocarem a máscara de pessoas responsáveis, credíveis, trabalhadoras, unidas para o bem da nação. Enquanto passarem o tempo a puxar a brasa para a sua sardinha, nenhuma das sardinhas assa como deve ser!! E só há um assador e uma brasa... Entendam-se, porra!! Assem uma sardinha de cada vez. Uns comem mais cedo, outros mais tarde! Mas ao menos comemos todos!!

É que a música assim não muda! Continuamos a ouvir a canção do José Malhoa, intrepertada por diferentes (des)governos: "E toda a malta gritou, e até o padre ajudou: APERTA, APERTA COM EEEEEEEELES!"