segunda-feira, maio 22, 2006

O glamour

Este poderia bem ser o epíteto da XI Gala dos Globos de Ouro, da SIC. Assim como o Senhor dos Anéis tinha "O Regresso do Rei" ou a Guerra das Estrelas tinha "O Império Contra-Ataca", também esta gala poderia ser anunciada como: Gala dos Globos de Ouro XI - O Glamour. Mas este sub-título só se justificava pelas 342 vezes que foi pronunciada pelos entrevistados, como sendo o termo que melhor caracterizava o evento. À falta de melhor em português, arranjaram uma palavra estrangeira que é fina e tudo!
No início ri-me que nem um perdido. Quando não conseguia rir mais, de tantas dores abdominais, chorei de pena. Logo de seguida comecei a sentir náuseas e a querer vomitar!
O cenário hollywoodesco estava montado, com limusines e uma enorme passadeira vermelha. Mas, como os Globos de Ouro não são os Óscares e Lisboa não é Hollywood, a coisa tresandava a ridículo. Assim uma espécie de novo-riquismo do show business.
Três "repórteres", espalhados ao longo de uns 20 metros de passadeira, queriam fazer crer que estavam a milhas de distância uns dos outros. Nuno Eiró no início da passadeira, Daniel Nascimento a meio e Sofia Cerveira à entrada do Campo Pequeno. Com tanto "repórter" deviam estar a prever que os convidados chegassem todos ao mesmo tempo. Mas como os convivas surgiam a conta-gotas, chegava-se ao ponto de assistirmos a dois tristes cenários:
- entrevistarem as mesmas pessoas duas vezes, com as mesmas perguntas chatas;
- não terem ninguém para entrevistar.

Nuno Eiró "passava a bola" a Daniel Nascimento, que dizia que não tinha ninguém ao pé dele, que "chutava" para Sofia Cerveira, que dizia que só tinha com ela o público da SIC, que os acompanhava pela televisão!! Deprimente!
Havia meia dúzia de mirones, de mãos nos bolsos, a ladear o início da passadeira, silenciosos e pouco entusiasmados. Atrás de Daniel Nascimento havia uma bancada com umas 20 pessoas que faziam mais barulho que a máquina de lavar da minha avó durante a centrifugação! Gritavam, aplaudiam, chamavam pelas vedetas! Devem ter vindo do mesmo concurso que a Vodafone organizou, para levar uns jovens a gritar aos MTV European Music Awards.
Daniel Nascimento, o melhor de todos (ou então não), chegou a perguntar a uma VIP se gostava da remodelação que tinham feito ao Campo Grande! O Daniel Nascimento é tão bom, tão bom, que até promoveu o Campo Pequeno a Campo Grande, sem passar pela casa da partida e sem receber os dois contos!

Aliás, esta atitude promocional e graxista de Daniel Nascimento, encaixa bem no "lambe cús" colectivo a que se assistiu na carpete escarlate!
«Não, você é que está fabulosa!», dizia alguém.
«Ora essa, você é que está deslumbrante com esse vestido», ripostava outro alguém.
«Ainda não tive oportunidade de dizer que você também está um espectáculo hoje», rematava ainda mais alguém.

A questão da indumentária, parecendo que não, era uma enorme preocupação para o telespectador. A malta em casa queria lá saber se os convidados tinham candidatos favoritos ou se gostavam da remodelada praça de touros! O que o povo queria saber, e os "repórteres" faziam questão de arrancar aos convidados, era: «E vens vestida por...?», «Quem é que te vestiu?», «Essa roupa é de quem?». Claro que, como eu previ logo ao início, surgiram respostas como: «Não quero dizer», «Ora, quem me vestiu fui eu mesma!», «Esta roupa foi escolhida por moi même».

As minhas preferidas, quanto à roupa, foram as seguintes:
(entre Sofia Cerveira e Joana Solnado)
«Então e esse vestido que trazes, tão giro, é de quem?», indaga Sofia à espera certamente de um nome sonante.
«Comprei-o no Brasil», declara Joana.
«Pois...eles lá têm umas coisas giras», desabafa Sofia, sem mais palavras.

(entre Nuno Eiró e Patrícia Tavares)
«E vens vestida por quem?»
«Venho vestida por uma grande amiga minha, a Otília Fernandes*»

Eiró não disse, mas deve ter pensado o mesmo que eu: a grande amiga da Patrícia Tavares deve ser também a modista que, desde pequenina, lhe faz as baínhas das calças! É assim mesmo, Patrícia!! Eles só queriam era ouvir um nome, fosse ele qual fosse!! Também houve ali gente a dizer nomes em francês que, provavelmente, nunca ninguém ouviu, mas associados a roupa soam sempre bem. Se me perguntassem a mim «Então e vem vestido por...?», eu responderia «Venho vestido por Louvemont Côte-du-Poivre». E toda a gente acenaria com a cabeça e diria: «Sim, senhor. Este gajo é detentor de um bom-gosto e de uma classe de alto requinte!».

Daniel Nascimento chegou mesmo a forçar a comparação daquilo tudo com Hollywood, perguntando a João Nabais: «Todo este glamour, a passadeira vermelha, este ambiente, faz lembrar um pouco Hollywood, não faz?». Ao que o advogado retorquiu simplesmente: «Não sei! Nunca estive em Hollywood».

Meu caro Daniel, comparar os Globos de Ouro com as cerimónias hollywoodescas é como comparar merda com marmelada!

* Nome fictício