domingo, abril 23, 2006

Refeições volantes

Começo o post por realçar a espécie que me faz o epíteto "volante", associado a "refeição". Sempre me pareceram dois termos que não jogavam bem um com o outro. Um pouco à semelhança de "lápis" e "sarrabulho". Mas, pensando bem, não há nenhuma expressão em que se juntem estes dois últimos termos! Enfim...

Isto da volantice refeicional vem a propósito de uma amiga minha que, recentemente, viajou até à Holanda: terra de costumes estranhos, onde se pode fumar marijuana num café, mas nesse mesmo café não se vende qualquer bebida que contenha álcool!! Acho muito bem! Nesses países evoluídos já toda a gente tem consciência da quantidade de mortos na estrada que o álcool provoca!!

Contou-me a mesma amiga, que não é costume na Holanda as pessoas interromperem o seu dia de trabalho para almoçar. Isto é, em vez de terem hora e meia de almoço, bebem uma caneca de sopa (!) ou um capuccino ali mesmo. Ou comem qualquer coisa meio à pressa, mas sem abandonarem o local de trabalho! Diz ela que é possível ser-se atendido num balcão de uma agência bancária, por exemplo, por um empregado que bebe a sua sopinha de agriões pela caneca.
Quem se lembrar da Royco Cup-a-soup, uma conhecida marca de sopas bebíveis, certamente que percebe coisa: essa produto estava à partida condenado ao insucesso no nosso país! O Tuga gosta de comer com calma!! Mesmo que vá comer à Companhia das Sandes ou à Loja das Sopas ou ao KFC, o Tuga quer é ir...e ficar lá um bocado! Fuma o seu cigarro, come pachorrentamente, olha para o relógio, ainda tem mais 20 minutos, mas não vai já pra cima! Se tem hora e meia, é hora e meia! Até pode ser mais...mas menos nunca é!

Mas confesso que gostava de ver este conceito de comer no local de trabalho, enquanto se atendem pessoas, a vingar no nosso país! Imaginem o cenário: repartição de finanças de Proença-a-Nova, 13h. Em vez de se fechar para almoço atendiam-se as 30 pessoas que estão na fila desde as 10h20. O Sr. Armindo, da Secção de Penhoras, prepara o porquinho de barro, mete-lhe uma farinheira em cima, rega-o com álcool e chega-lhe o fogo! Ouve-se o crepitar da pele da farinheira, enquanto a D. Patrocínia parte o pão alentejano em generosas fatias. Ao mesmo tempo, o Sr. Otávio, chefe de secção, mexe a salada com as mãos, depois de a temperar com azeite lá da terra! Logo de seguida, e sem passar as mãos por água, entrega um Modelo 22, banhado em gordura, ao Sr. Alberto, cidadão cumpridor da lei, que se vai lambendo com o cheirinho do enchido acabado de assar!

Ahh...esta combinação da típica gastronomia portuguesa com a perpectiva de mais produtividade, ainda que com umas nódoas de gordura nos papéis...