quinta-feira, fevereiro 02, 2006

No Palácio de Belém

Um destes dias, Jorge Sampaio, futuro ex-Presidente, encontrou-se em Belém com Cavaco Silva, futuro próximo-Presidente. E pergunto eu: qual terá sido o teor da conversa? Ou deverei dizer monólogo?
Não é difícil adivinhar! Economia? Não! Segurança Social?! Naah! Dossiers pendentes?! Nop!

Aquilo deve ter sido qualquer coisa como isto:

Jorge Sampaio: Então como estão a ir as mudanças? Já tens tudo empacotado pra te mudares pr'aqui, pah?
Cavaco: Sim... e está um belo dia de sol de Janeiro.
Jorge Sampaio: Olha...queria que viesses cá pra te explicar umas coisas aqui do funcionamento do palácio, pá.
Cavaco: Sim... está um bocadinho frio, mas é Inverno, é normal.
Jorge Sampaio: Então é assim, toma nota: as chaves do palácio costumam ficar em cima daquele aparador, aquele com o espelho. Quando eu me for embora deixo-as ali. Há umas chaves suplentes na gaveta do meio. Eu, quando vou de férias, costumo deixá-las com uma senhora velhota que mora ali do outro lado da rua, muito simpática. Se precisares ela vem-te ver o correio e regar as plantas. É muito prestável. Convém depois dar-lhe uma lembrançazita no Natal. No último Natal dei-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, mas ela diz que tem medo de usar aquilo na rua, por causa da gatunagem. Por isso dá-lhe antes daquelas bolachinhas para o chá.
O quadro eléctrico é ali atrás da porta, tem lá umas velas e umas lâmpadas novas, também. Agora anda ali para te mostrar uma das casas-de-banho.
Cavaco: Com certeza, mas não encontro explicações convincentes para que Portugal continue na situação de declínio e possa cair para a cauda do desenvolvimento da União Europeia.
Jorge Sampaio (revirando os olhos com as palavras estranhas e fora de contexto): Isso preto no tecto é da humidade, que a Maria Zé gosta de tomar banho com água bem quente. Atenção que aquele autoclismo está um bocadinho avariado. Tens de chamar cá alguém. Eu ainda tentei o ano passado trazer cá um rapaz pra ver disso, mas depois meteu-se o Natal e o Ano Novo e já sabes como é.
Cavaco: Não merece qualquer comentário.
Jorge Sampaio: Pois, pá. Agora ali fora, no jardim, tens ali um barracão com alfaia agrícola e material de jardinagem. Aqui este pessegueiro precisa de ser podado. A relva convém cortá-la...vá lá...uma vez em cada dois meses deve dar. No verão é que tens de ter o cuidado de regar, porque senão seca e era uma maçada. Quando trouxeres cá os teus netos tem atenção ali com o lago. Uma vez ia-se ali afogando o neto do Embaixador do Burkina Faso, pá! O puto olhou pró lago e diz que viu um menino lá debaixo e atirou-se para o salvar! Foi uma chatice do camandro!
Cavaco: Entendo que um candidato deve logo mostrar na campanha o seu carácter, tem de mostrar que respeita os portugueses.
Jorge Sampaio: Ainda estás assim por causa da campanha? Aquelas coisas custam a sair, não é? Ainda andaste o quê...uns bons dois meses naquilo? É complicado um gajo recuperar daquilo!! Pronto, pá... e é isto! Estão também ali umas pastas em cima da secretária com uns assuntos chatos de caraças, pá, que ainda nem lhes peguei. Depois só tens de assinar onde tem a cruz! Outra coisa, ali o Godofredo, o porteiro do palácio, pá, o gajo está mal habituado que é uma coisa! Tens de lhe dar gorjeta quando passares por ele. Uns 50 cêntimos chega, que é pró café. Ou prós copos, nunca cheguei a perceber. Foi o Mário que o habituou assim. Pronto, pá, vai lá à tua vida, que deves ter muito pra fazer.
Cavaco: Obrigado pela visita e volte sempre Sr. Jorge. Foi um prazer recebê-lo na minha humilde residência.
Jorge Sampaio: Por amor de Deus, pá, levem-me este gajo daqui, pá!! Sô guarda, leve-mo até ali ao carro dele que ele não se está a sentir bem. Oh Aníbal, pá, ainda tens um mês e picos antes de tomares posse...vê se descansas. Desgraçado! Vá...vai lá pró pé da Maria, anda! As melhoras!!
Cavaco: Não tens aí uma fatiazita de bolo-rei, não?!
Jorge Sampaio: Dasss!! Desampara-me a loja, homem! Tenho de ir telefonar pró Juan Carlos pra combinarmos umas férias pra este verão! Vá...adeusinho!